sábado, 15 de setembro de 2007

Palomar

Terminei de ler Palomar (1983) de Italo Calvino. Eu adoro esse escritor e vi que o Renato Prelorentzou tinha escrito um artigo sobre o livro no blog Paisagens da Crítica do Júlio Pimentel Pinto. Fui checar os livros do Italo Calvino que tinha comprado em um sebo e lá estava ele. Foi uma grata surpresa, já que é o último livro publicado pelo autor e é recente, e sebos trazem sempre livros mais antigos. Comprei por R$ 14,00, já que se trata de um livro recente, então os custos são um pouco mais altos que normalmente são nos sebos. Agora consegui descobrir essa brilhante obra. Não está entre os meus preferidos do autor, mas Italo Calvino é sempre surpreendentemente genial.
Obra de Remo Brindisi
Nosso protagonista está sempre analisando tudo o que vê. Até mesmo nas férias tem processos que precisam terminar e ele analisa as ondas. Quando ele fala dos pássaros é muito emocionante, já que ele diz que, se quem ouve, não teve na infância alguém que dissesse que pássaro é aquele, esse alguém irá desconhecer seus nomes e cantos e meu pai sempre dizia com o canto dos pássaros, quais eram e contava suas histórias. São vários capítulos sobre a arte de observação da vida, dos animais, é muito divertido quando ele fala do andar das girafas, ou das pantufas desparelhadas, ele diz que de alguma forma estará eternamente ligado a pessoa que levou a outra pantufa desparelhada.

A última análise de Palomar é sobre a morte, e ele resolve pensar como se estivesse morto, porque assim os processos não mudarão mais. Através de questões cotidianas e análises filosóficas profundas, o livro se desenrola em uma narrativa brilhante!

Obra de Renato Guttuso
Trechos de Palomar de Italo Calvino:

“O mar está levemente encrespado e pequenas ondas quebram na praia arenosa. O senhor Palomar está de pé na areia e observa uma onda. Não que esteja absorto na contemplação das ondas. Não está absorto, porque sabe bem o que faz: quer observar uma onda e a observa. Não está contemplando, porque para a contemplação, nenhuma daquelas três condições todavia, se verifica para ele. Em suma, não são “as ondas” que ele pretende observar, mas uma simples onda e pronto: no intuito de evitar as sensações vagas, ele predetermina para cada um de seus atos um objetivo limitado e preciso.”

“O senhor Palomar, a quem os pingüins causam angústia, a segue a contragosto, e se pergunta o porquê de seu interesse pelas girafas. Talvez porque o mundo à sua volta se mova de modo desarmônico e Palomar espere sempre descobrir nele um desígnio, uma constante.”

“Se o modelo não consegue transformar a realidade, a realidade deveria conseguir transformar o modelo.”

Beijos,

Pedrita

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Prova


Assisti A Prova (2005) de John Madden no HBO. Esse filme encerra a maratona de filmes no domingo, na verdade foram somente três, mas raramente vejo mais que dois filmes em um dia. É que Luzes da Cidade eu vi por um acaso. Estava na maior dúvida sobre qual filme veria às 20hs, eram vários que anotei. Estava na dúvida de ver esse por ser um drama e ter receio de seu roteiro, que é baseado na peça teatral de David Auburn. Mas na última hora comecei a ver e foi uma grata surpresa. Tinha anotado esse filme porque é com a Gwyneth Paltrow que adoro e vi que o Anthony Hopkins também estava no elenco.

Logo no início já me deu um nó no peito. A personagem de Gwyneth Paltrow está sozinha em uma casa, abre uma champagne e o pai aparece e pergunta porque ela comemora sozinha seu aniversário. E nas lembranças das amigas e da irmã, ela fala que está melhor sozinha. Aí o pai diz que ele morreu no dia anterior. Começa então uma discussão sobre a loucura. A filha cuidou do pai que tinha enlouquecido até ele morrer. Ele foi um grande matemático e ela seguiu a carreira do pai. Pela doença do pai ela abandonou a faculdade e viveu 5 anos de total dedicação. Aparece então uma irmã totalmente diferente, preocupada com sua casa e futilidades. Uma irmã que anos a fio tinha sido ausente. O grande drama da personagem de Gwyneth Paltrow é que ela acha que tem a mesma doença do pai, que é louca também. E pior, todos acreditam nisso. A irmã fica o tempo todo falando com a irmã como se ela tivesse problemas mentais. Mas ela cuidou muito bem do pai sozinha anos.
Várias questões no roteiro me chamaram a atenção. Uma é o abandono de todos quando o pai adoece. Ninguém quer cuidar, visitar e ainda atacam quem cuidou com tanto zelo e se anulou. Outra é a questão feminina do conhecimento. Todos duvidam da capacidade profissional da personagem de Gwyneth Paltrow. Ela não poderia ser tão brilhante como pai, herdou a sua loucura, mas não o seu brilhantismo. A Prova é um filme muito feminino sobre a incompreensão da sociedade ao talento feminino. A pressão é tanta, que personagem de Gwyneth Paltrow começa a duvidar de si mesma. Ela vive um dos dias mais doloridos de sua vida, o enterro do pai, mas ninguém quer dar afeto, querem arrumar um marido pra ela, levar pra ser tratada, não dão amor e não acreditam no seu talento. Ela está emocionalmente fragilizada, quem sabe o que é perder alguém que estava diariamente conosco saber a dor e a confusão que o acontecimento gera, mas todos acham somente que é a herança da loucura do pai. A Prova é dolorido e impressionante.
Gwyneth Paltrow está simplesmente maravilhosa, ela atua divinamente. Outro que está muito bem é Jake Gyllenhaal. A irmã é interpretada por Gary Housnton.

Beijos,

Pedrita

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Agora Brilha o Sol


Assisti Agora Brilha o Sol (1957) de Henry King no Telecine Cult. Eu queria muito ver porque tem a belíssima Ava Gardner no elenco. É baseado no livro de Ernest Hemingway. Estava gostando bastante. O personagem de Tyrone Power parece ter tido uma história com nossa protagonista, mas ele finge não sentir nada por ela. Ela, em contrapartida, tem o comportamento de muitos depois da guerra, viver o dia de hoje como se fosse o último. Também busca um casamento que lhe dê segurança financeira. Enquanto se relaciona com o milionário tem vários envolvimentos com outros homens.

O filme começa a ser realmente um problema pra mim quando o grupo que vive em volta da nossa protagonista vai para a Espanha participar das festas que têm como "divertimento" principal as touradas. São cenas e cenas de touros sofrendo e dos seres humanos achando que isso é diversão. Até entendo que é uma época que não via como violência aos animais, mas hoje em dia ainda acham essa prática ser esporte e no Brasil aumentou consideravelmente os investimentos em rodeios, que apesar de um pouco diferentes, é desumano igualmente com os animais. Aqui no Brasil inclusive, o investimento parte de uma emissora de televisão que ainda divulga exaustivamente o abuso de seres humanos sobre animais só para mostrarem o que eles acham que é virilidade. Desse momento em diante de Agora Brilha o Sol foi um suplício continuar a ver o filme. Tinha o livro do Hemingway em uma lista para ler, vou repensar.
Agora Brilha o Sol é da época que a indústria do tabaco investia consideravelmente no cinema americano e a maioria dos personagens fumam desvairadamente. Como já comentei aqui em outros posts, viam também o consumo excessivo de álcool como falta de força de vontade, de alguém libertino e não como uma doença.
Há muitos outros atores no elenco: Erroll Flynn, Mel Ferrer, Errol Flynn, Eddie Albert, Gregory Ratoff, Robert Evans e Juliette Gréco.
Pedrita

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Luzes da Cidade

Assisti Luzes da Cidade (1931) de Charles Chaplin no Telecine Cult. Charles Chaplin assina ainda a produção, roteiro, música e edição, além de claro, ser o protagonista. O filme é preto-e-branco e mudo. Descobri por um acaso. Liguei a TV e o filme estava começando, decidi ver. Era um dia de muitos filmes que queria ver, uma lista enorme, estava difícil escolher e esse apareceu em outro horário e por um acaso.

Sempre me emociono com os filmes dessa época e com os de Charles Chaplin. Uma moça pobre e cega vende flores na rua, por quem o personagem de Charles Chaplin se apaixona, mas ela acha que ele é rico. Ele, como sempre, é um bom e generoso homem. Não gosta de trabalhar, mas para ajudar a moça até arruma um trabalho. Muito trapalhão, mas sempre generoso. A bela moça é interpretada maravilhosamente por Virgínia Cherrill.

Charles Chaplin é muito divertido. As melhores cenas são com ele lutando boxe, nunca ri tanto, ele é genial. Também é bem divertido quando o milionário se afeiçoa a ele, mas só quando o milionário está bêbado. O milionário é interpretado por Harry Myers. Vou ficar de olho quando vão reprisar porque quero rever umas cenas para me divertir mais um pouco e me emocionar.


Beijos,

Pedrita

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Free Zone


Assisti Free Zone (2005) de Amos Gitai no Telecine Cult. Eu gosto bastante desse diretor e amei esse filme. É um roteiro muito feminino elaborado pelo próprio diretor e por Marie-Jose Sanselme. Free Zone é uma co-produção entre Israel, França, Bélgica e Espanha. Começa com uma música incrível sobre a compra de um cordeiro. A frase da música é repetida várias vezes até que o gato come o cordeiro, repetem várias vezes novamente até o cachorro comer o gato e assim a música vai. É muito interessante como o roteiro é exatamente assim, cíclico, como se não houvesse saída para a cadeia do desenvolvimento, ainda mais em povos em eterno conflito.
Começa com a personagem da Natalie Portman chorando muito em um carro tocando a música. A dor dela é tão sentida que eu me emocionei junto. Mas nós não sabemos porque ela chora e não vamos ficar sabendo nunca. Aí ela fala com uma outra mulher que está no carro, que ela deseja sair daquela cidade. A mulher disse que tem que ir a Jordânia, fala que é uma viagem difícil, mas a outra insiste. Vemos então a cena da fronteira, a dificuldade para conseguirem passar. Não há liberdade e facilidade para transpor outro país. Com muita dificuldade elas conseguem passar. E na Jordânia conhecem a terceira guerreira. Não sabemos muito das história das três, mas me surpreendi com a coragem dessas mulheres. As três várias vezes tiveram que começar do zero as suas vidas, sofreram violentamente, perderam tudo várias vezes e nunca, mas nunca desistiram de lutar. Uma é americana, outra israelense e a última palestina, todas as três com vidas difíceis. A israelense inclusive é uma sobrevivente de Auschwitz. As duas outras atrizes são Hanna Laszlo que está maravilhosa e que ganhou por sua belíssima interpretação o prêmio de Melhor Atriz, no Festival de Cannes e Hiam Abbass. Me surpreendi de ver nos créditos o nome da maravilhosa Carmen Maura, ela aparece nas imagens sobrepostas das memórias da taxista que é a sogra da americana.
Gostei muito da técnica de mostrar a memória das duas, como todos nós em estradas, acabamos lembrando momentos de nossas vidas. Esses momentos vem superpostos a cena da estrada. Brilhante! Mas são poucas memórias. Só mesmo da israelense que conhecemos mais detalhes porque ela conta para a americana. Gostei demais de Free Zone, é um filme incrível sobre pessoas corajosas que lutam para conseguirem sobreviver e não tem medo dos conflitos da região que vivem. Elas vivem os seus cotidianos com coragem, e os conflitos, apesar de serem uma eterna ameaça, vivem ao largo de suas vidas. Os conflitos que elas enfrentam são muito mais de pessoas em crises do que de países em crise, como a do rapaz que põe fogo em toda a propriedade do pai por revolta familiar.


Beijos,

Pedrita

domingo, 9 de setembro de 2007

Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais

Assisti ao filme inglês Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005) de Steve Box e Nick Park no Telecine Premium. O nome original é Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit e acho que tem bem mais a ver. São dos mesmos criadores de A Fuga das Galinhas, onde a animação é feita com bonecos de massinha e filmados take a take. Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais demorou 5 anos para ser feito e ganhou o Oscar de Melhor Animação, nada mais merecido e Bafta de Melhor Filme Britânico.

A dupla Wallace & Gromit surgiu inicialmente em três curtas, até que começaram a fazer o filme. Em Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais, nossos heróis são contratados pra livrar as casas dos coelhos. Eles os capturam sem os machucar e os escondem. Niguém sabe que eles mantém os coelhos em sua casa, escondidos. Eles já são tantos que aparecem em tudo quanto é lugar da casa.

A cidade tem um concurso anual de vegetais e cada cidadão cultiva um vegetal que, se vencer, ganha uma cenoura de ouro. Portanto os coelhos precisam ficar longe das plantações. O que amei mais foram os coelhinhos, me deu muita saudade do coelhinho que tive, o Floquinho.

A animação é surpreendente, imaginar que cada movimento é feito individualmente e filmado, incrível. Um jogo enorme de paciência e dedicação.


Beijos,

Pedrita